Ele relatou que os bancos aceitam operações de empresas "que não têm sede, não têm funcionários" e movimenta num dia o que era esperado para o mês. A lei brasileira obriga os bancos a checar se a origem do dinheiro que chega às instituições é lícita. É a filosofia conhecida em inglês como "know your client" (conheça o seu cliente). A omissão dos bancos nessa checagem é considerada crime.

Muitos bancos chegam a exigir a folha de pagamento de firmas desconhecidas para evitar que empresas fantasmas movimentem recursos sem origem. Nada disso era feito, segundo Pace Junior.

Ele fez um acordo de delação premiada com os procuradores: decidiu contar o que sabe para tentar obter uma pena menor. No curso dessa negociação, o advogado de Pacce Junior à época, Marden Maués, conseguiu sua liberdade. Segundo o réu, a doleira movimentava US$ 300 mil por dia. Ele citou inclusive o nome de um gerente do Banco do Brasil, Rinaldo Gonçalves Carvalho, que ajudava a doleira.

Pacce Junior trabalhou na área de câmbio de grandes bancos e há oito anos cuidava dessas operações para a doleira, segundo relato que fez ao juiz Sergio Moro.

Nelma foi presa com 200 mil euros escondidos na calcinha e no corpo ao tentar embarcar para a Itália na madrugada de 16 de março, um dia antes de a Operação Lava Jato ter sido deflagrada.

O advogado de Nelma, Marden Maués, disse que ela jamais tentou fugir para a Europa, como afirma a acusação do Ministério Público Federal. Segundo o advogado, ela iria comprar móveis e objetos de design em Milão e tinha até a passagem de volta para comprovar que não deixaria o país. A doleira estava abrindo um loja em Moema (zona sul de São Paulo).

No ano passado, ela foi condenada por operações ilegais de câmbio que fez junto com o ex-juiz João Carlos da Rocha Mattos. Eles estão recorrendo da decisão.

Nelma considera-se uma celebridade entre os doleiros. Autobatizou-se de "a grande dama" do mercado paralelo e tem e-mails com os nomes das atrizes Cameron Dias e Greta Garbo.

OUTRO LADO
Em nota, o Banco do Brasil afirma que "cumpre integralmente a legislação em vigor e adota controles rigorosos de prevenção e combate à lavagem de dinheiro".

"Repudiamos qualquer insinuação de conivência com os delitos investigados e informamos que o funcionário citado foi demitido do Banco do Brasil, por justa causa. Apurações internas sobre sua conduta foram repassadas às autoridades responsáveis pela investigação", segundo a nota da assessoria de imprensa da instituição.

O Bradesco afirmou que "não comenta assuntos que estejam sob investigação pelas autoridades". O Itaú informou que "não vai comentar o assunto".

O Santander não se manifesta sobre questões que estão em discussão na Justiça, de acordo com a assessoria da instituição. Afirmou, no entanto, que segue rigorosamente todas as leis brasileiras e internacionais. (Fonte: Folha.com)
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