No segundo trimestre, o número de pessoas que não trabalham ou desistiram de procurar emprego cresceu 1,2% e atingiu um nível recorde: 65,6 milhões de brasileiros com 14 anos ou mais estão fora de força de trabalho.

Trata-se do nível mais alto da série histórica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), iniciada em 2012, informou o órgão na terça-feira (31).

As pessoas fora da força de trabalho são aquelas que têm idade para trabalhar, mas, por alguma razão, deixaram de procurar emprego.

O mais preocupante, diz Everton Carneiro, analista da RC Consultores, é que uma forte explicação para isso é o crescimento do desalento -a desistência de ir em busca de uma vaga diante da lenta retomada econômica.

Paradoxalmente, nas estatísticas, a taxa de desemprego caiu, graças ao aumento dos postos de trabalho informais.

A taxa de desemprego teve uma redução de 13% para 12,4% no segundo trimestre do ano em relação ao primeiro, somando 13 milhões de desempregados.

Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, os números também não animam: ao mesmo tempo em que 1 milhão de pessoas passaram a ter alguma ocupação no período, um grupo maior, de 1,2 milhão de pessoas, saiu da força de trabalho.

Outro ponto que chama a atenção é que esse aumento de pessoas ocupadas nos últimos doze meses é mais do que inteiramente explicado pelo avanço do emprego informal e também, em menor grau, do emprego público, diz o economista Fernando Montero, da consultoria Tullett Prebon, em relatório.

No mercado informal, diz ele, a soma dos trabalhadores do setor privado sem carteira assinada, de empregadores e trabalhadores por conta própria sem CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica), de trabalhadores familiares e de trabalhadores domésticos sem carteira atinge 821 mil ocupados no período. Já o número de empregados no setor público subiu 310 mil.

Em sentido oposto, os trabalhadores e domésticos privados com carteira mais os empregadores e conta própria com CNPJ caíram 130 mil na comparação com o segundo trimestre de 2017.

O IBGE divulgou pela primeira vez o nível da formalização dos grupos de trabalhadores por conta própria e empregadores, que são indivíduos que têm pelo menos um funcionário

Como já era esperado, 80% dos conta própria não têm CNPJ. Entre os empregadores, a relação se inverte: 80% não tinham CNPJ, em linha com o fato de que os trabalhadores por conta própria costumam ser pequenos empreendedores que decidiram abrir seus negócios após perder empregos formais.

Chama a atenção, no entanto, que o número dos empregadores precários vem em alta praticamente contínua desde 2015, atingindo o recorde de 911 mil.

Segundo o IBGE, dos 91,2 milhões de ocupados, ao menos 40,6% (ou 37 milhões) estão no mercado informal. Já o número de empregados no setor privado com carteira de trabalho assinada atingiu o menor nível da série histórica iniciada em 2012, ao registrar contingente de 32,8 milhões de pessoas.

"Aumentou a oferta de trabalho, mas a qualidade do emprego está menor", diz Carneiro, da RC Consultores.

Segundo Carneiro, outro sinal de piora da qualidade no trabalho é que, a despeito da alta no contingente de ocupados, a renda real do trabalhador (descontada a inflação) se mantém estável.

Em relação a igual período de 2017, esse rendimento cresceu 1,1%. Na prática, a renda do trabalhador subiu R$ 24 no intervalo de um ano. "É aumento de vagas que não gera melhora no poder de compra, o que retarda a retomada econômica", diz Carneiro.

Mesmo com crise fiscal, setor público amplia contratações

Enquanto o mercado de trabalho brasileiro tem cada vez mais trabalhadores informais de um lado e, de outro, pessoas desistindo de procurar vaga, o setor público amplia as contratações e bate recorde de empregados num momento de severa crise fiscal.

Entre abril e junho, 11,6 milhões de pessoas estavam empregadas no setor público --o maior nível da série histórica, iniciada em 2012, segundo dados do IBGE.

No segundo trimestre, 392 mil pessoas foram contratadas pelo setor público. Deste total, 73% ou 289 mil vagas não tinham carteira assinada, em modelos de contratação que podem ser por meio de cargos temporários ou comissionados.

Fernando Montero, economista da consultoria Tullett Prebon, diz que o avanço das contratações públicas, mais associado a administrações regionais, ocorre desde a virada de 2017, o que indica que não pode ser explicado apenas pelo ciclo eleitoral.

Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, diz que é possível que sejam contratações de funcionários por contrato temporário, em especial nos setores da saúde e da educação, justamente porque as prefeituras não tem verba para contratar via concurso.

Na avaliação do próprio IBGE, a alta é sazonal.

"É comum as prefeituras dispensarem trabalhadores no fim do ano e recontratá-los no início do ano seguinte", afirmou o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo. Como o país tem mais de 5.000 municípios, o movimento é grande. (Fonte: Bem Paraná)

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