Presidente eleito diz que órgão será absorvido por outra pasta (Geralda Doca, Mateus Coutinho, João Sorima Neto e Glauce Cavalcanti)


O presidente eleito, Jair Bolsonaro, confirmou nesta quarta-feira que o Ministério do Trabalho, como funciona hoje, será extinto. Ele deve ser absorvido por outra pasta, mas Bolsonaro não deu mais detalhes. Uma das alternativas em estudo é separar a estrutura em três partes.


A área de fiscalização, que envolve direitos trabalhistas, combate ao trabalho infantil e trabalho escravo, migraria para o ministério social do novo governo. A pasta deverá abarcar o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), Direitos Humanos, Assistência Social e Família. A equipe de Bolsonaro já sinalizou que a nova pasta pode ser comandada pelo senador Magno Malta (PR-ES), que não foi reeleito.


O FGTS e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), que estão dentro da estrutura do Ministério do Trabalho, devem migrar para o superministério da Economia, que será comandado por Paulo Guedes. Já as áreas responsáveis por registros sindicais e qualificação de trabalhadores poderiam migrar para o Ministério da Educação.


Perda de relevância

Para integrantes da equipe do presidente eleito, o Ministério do Trabalho perdeu relevância e serviria apenas como cabide de emprego, além de ser foco de corrupção. Antevendo o fim da pasta, técnicos do ministério chegaram a procurar a equipe de transição para dizer que a medida seria prejudicial. Em nota divulgada na terça-feira, a pasta destaca que completará 88 anos no próximo dia 26 e foi criada para equilibrar as relações entre trabalhadores e empregadores. O Brasil tem hoje 12,4 milhões de pessoas sem trabalho e uma taxa de desemprego de 11,9%.


As centrais sindicais criticaram o anúncio de que o ministério será absorvido por outra pasta. Economistas se dividem entre os que avaliam que as funções a cargo do ministério poderiam ser feitas dentro de uma secretaria e os que receiam que a medida resulte em ações menos efetivas de fiscalização de regras e direitos trabalhistas.


O escopo de atuação do Ministério do Trabalho é amplo. Cabe a ele não só gerir fundos como o FAT e o FGTS, como a prestação de serviços de emissão de carteira de trabalho e concessão de seguro-desemprego. É a pasta responsável pela fiscalização e combate ao trabalho escravo e pela produção de estatísticas acerca do mercado formal. Ele também compila as informações prestadas pelas empresas anualmente por meio da Rais (Relação Anual de Informações Sociais).


- Provavelmente, depois da Receita Federal, a maior base de informações que o governo federal possui é administrada pelo Ministério de Trabalho. A Rais tem a memória de todos os trabalhadores desde 1975 — afirma o economista Claudio Dedecca, da Unicamp, que considera a extinção da pasta preocupante diante do volume de informações pelo qual ela é responsável.


O economista José Márcio Camargo, porém, avalia que a mudança pode ser benéfica:

- É perfeitamente razoável. O Ministério do Trabalho deve ser focado em gerar estatísticas. Ter status de ministério não é tão importante.


As estruturas governamentais para formular políticas públicas para o mercado de trabalho variam ao redor do mundo. Os Estados Unidos têm um Departamento do Trabalho, criado em 1913, com status de ministério. França e Rússia têm pastas dedicadas exclusivamente à área. Há casos diferentes. Na Alemanha, a área funciona ao lado de assuntos sociais. No Japão, há um ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar.


- A integração funciona em países onde a política de trabalho é executada com a política de saúde e Previdência. Mas é porque a seguridade social, nesse país, tem uma identidade que lhe permite acesso a todas as políticas sociais. Há execução coordenada - avalia Dedecca.

Parte dos especialistas afirma, porém, que a pasta não vinha cumprindo com eficiência a função de fiscalização de direitos trabalhistas.


- Se o ministério tivesse uma fiscalização efetiva, a Justiça do Trabalho não receberia tantos processos trabalhistas. O ministério se tornou uma pasta muito mais de promoção de partidos políticos interessados em participar do governo - avalia Juliana Inhasz, professora de Economia do Insper.


Para Valton Pessoa, sócio do Pessoa & Pessoa Advogados, tudo vai depender do projeto de distribuição das atividades.


- Desde que as competências do atual Ministério do Trabalho sejam mantidas, não vejo como o fatiamento possa implicar prejuízo ao trabalhador. Pode haver perda de agilidade em processos administrativos.


Sindicatos criticam

Já a juíza Cláudia Pisco, titular da 45ª Vara da Justiça do Trabalho do Rio, vê risco de precarização das condições de trabalho:


- Enxugar a máquina pública é necessidade clara. Mas o mote econômico e o viés empresarial não podem se sobrepor às obrigações do atual Ministério do Trabalho.


Integrantes do Ministério Público do Trabalho e do Tribunal Superior do Trabalho (TST) temem que a fiscalização perca prioridade ao ser abarcada por outra pasta. O procurador-geral do Trabalho, Ronaldo Fleury, vê riscos econômicos na medida:


- Os países sabem que existe trabalho escravo aqui, mas compram nossos produtos porque sabem que a política de combate tem sido efetiva.


Ele argumenta que, sem fiscalização eficiente, os gastos com afastamento de trabalhadores poderiam aumentar. Nos últimos cinco anos, o país gastou R$ 75 bilhões em despesas com a Previdência devido a afastamentos.


Em nota, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) contestou o anúncio e disse que ele significa fechar um canal de expressão dos trabalhadores. Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), é contra a extinção da pasta, mas avalia que ela não tem cumprido sua função de capacitar os trabalhadores:


- Nos últimos anos, o ministério foi loteado entre partidos políticos e perdeu seu foco que é treinar e capacitar os trabalhadores. Mas extingui-lo é um erro. (Fonte: O Globo)

 

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