Emmais uma prova de desumanidade e covardia a diretoria do Bradesco demitiu porjusta causa, no último dia 20 de dezembro, um gerente sequestrado com 46 anosde idade, 25 deles no banco, que teve esposa e filha reféns no dia 11 denovembro do ano passado. Mantidas em cativeiro, elas seriam mortas pelosbandidos caso o bancário não entregasse a quantia que estivesse no cofre daagência Pontal do Recreio, onde trabalhava.
Desesperado,o gerente atendeu à exigência. Elas dependiam dele para continuarem vivas.Passados alguns minutos, ligou para a gerente-geral, explicando o queacontecera e pedindo que ficasse alerta para ver se a esposa e a filhaapareceriam ali, como os bandidos haviam combinado.
"Chegueià agência, mas, como elas não chegavam, entrei em desespero. Desabei em choro.Comecei a imaginar o pior. Só eu sei o que senti. Não quero que aconteça comninguém. Finalmente, ao meio-dia, elas me ligaram: haviam sido soltas emPiedade. Estavam muito assustadas, mas bem. Pegaram um táxi e combinaram de meencontrar na casa do meu genro", contou.
Demissão pelo correio
Aagência encaminhou o gerente ao inspetor de ocorrência do Bradesco, que o levoupara uma delegacia policial em Bonsucesso, determinada pelo banco, fora da áreaonde tudo se passou. Depois de prestar depoimento, foi ver a filha e a esposa.
Apartir daí, o Bradesco começou a colocar as garras de fora, quase queantecipando o que faria mais à frente com o gerente, muito abalado com osequestro e impossibilitado de voltar ao trabalho.
Desrespeitandoa lei, o Bradesco não emitiu a Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Foientão que o gerente procurou a Secretaria de Saúde do Sindicato dos Bancáriosdo Rio de Janeiro, que, com o direito garantido pela lei previdenciária, emitiua CAT.
Deposse do documento, o bancário entrou de licença-saúde pelo INSS com estressepós-traumático. "Já vinha fazendo tratamento psiquiátrico. Em função dapressão que sofria no banco estava com os nervos abalados. Entrei de licença. Obanco pagou cinco dias de tratamento psicológico para mim, minha filha e minhaesposa, como se isto fosse resolver o trauma, em um passe de mágica",contou.
Empleno período de licença o Bradesco, covardemente, o demitiu. "Recebi nodia 20 de dezembro a demissão por carta em casa, autenticada em cartório. Achoque foi uma covardia, falta de respeito. Me senti sem chão. Tinha passado portoda aquela situação, estava em licença e tratamento e mesmo assim fui demitidoe por justa causa", lembra.
Emação judicial movida pela Secretaria de Assuntos Jurídicos do Sindicato, obancário foi reintegrado em 26 de maio, por decisão da juíza Juliana RibeiroCastello Branco, da 53ª Vara do Trabalho.
Ogerente e a esposa estão em atendimento psiquiátrico no Instituto dePsiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ipub). "Estava noBradesco há mais de 25 anos. Esperava outro tratamento. Talvez ser colocado emoutro setor, interno, que não tivesse contato direto com o público, queresguardasse a minha saúde. Achei muito injusto o que o Bradesco fez. Além domais o banco não perde nada porque está coberto pelo seguro".
Sem consideração
Adiretora do Sindicato Nilza Tavares condenou o Bradesco pela demissão. "Obanqueiro mostrou mais uma vez que não tem a mínima consideração ou preocupaçãocom a vida dos bancários e de sua família", afirmou a sindicalista.
Elaacrescentou que ter ganho a ação foi uma importante vitória, uma resposta atodo este desrespeito. "É um exemplo aos demais bancários, para que,quando estiverem em uma situação semelhante, venham ao Sindicato, recorram enão deixem que o banqueiro fique impune com toda esta desumanidade eilegalidade", aconselhou.
ParaNilza, o correto com um gerente que teve a vida dele e da família colocada em riscodeveria ser o Bradesco usar das prerrogativas que tem. Em vez de demitir, eladefendeu a adaptação da pessoa ao trabalho em outro setor em que não estivessetão exposta. E que o banco se responsabilizasse pelo tratamento psiquiátricodevido ao choque.
Emrelação à emissão da CAT, o Bradesco não poderia ter se recusado a fazê-lo."Foi mais um desrespeito. A lei deveria punir com valores bem altos arecusa da emissão", disse.
Alémdisso, a dirigente sindical afirmou que o banco tem a obrigação de estudarformas de segurança para evitar a repetição de casos como este. "Não podeé ficar o trabalhador refém desta situação de risco", defendeu. (Fonte:SEEB Rio)
