Em junho de 2015, falamos, aqui, da terceirização e seus efeitos no campo da educação. O contexto era o da aprovação, pela Câmara dos Deputados, de projeto de lei sobre o tema. (Guilherme Perez Cabral)
Faltava a discussão e votação no Senado (e, depois, a sanção do presidente) e o debate esfriou um pouco. Trocado o presidente e colocado lá alguém que não teve voto e que não deve satisfação a ninguém, a não ser aos políticos e empresários que o ajudaram a chegar lá (sem voto), o tema voltou à cena.
O Senado aprovou o projeto de lei do qual falávamos em 2015? Não, nada disso. Num só golpe (mais um), a Câmara dos Deputados desengavetou e votou outro projeto, anterior, de 1998, que já estava aprovado pelo Senado. Um textosurpresa que quase ninguém sabe, ao certo, o que prevê.
Em suma, uma grande confusão, um processo complicado, difícil de entender, salvo no seu objetivo: a aprovação rápida de um projeto sem qualquer debate, sem dar tempo às pessoas reprovarem seu conteúdo reprovável.
Passaram o trator. A terceirização está aprovada. Ponto final. Engulam. Não pensem vocês que isso aqui é um
a democracia. Quem manda aqui somos nós. É o recado dado pelo Congresso Nacional e sua Rainha da Inglaterra, Michel Temer.
"Terceirizar" é transferir para outra pessoa (um terceiro) os riscos e as obrigações decorrentes do seu negócio. Hoje, isso não é permitido em relação às "atividadesfim" da empresa. Tomando como exemplo a escola, não pode terceirizar sua atividadefim de ensinar. Admitese, somente, conforme entendimento da Justiça do Trabalho, em relação às "atividadesmeio" (como os serviços de limpeza e segurança do estabelecimento escolar).
Pois bem. O projeto aprovado autoriza a terceirização da atividadefim da empresa. No nosso caso, se o presidente sem voto sancionar a lei, a escola poderá terceirizar a docência. E isso vale, claro, para empresas de outros ramos.
Veja a crueldade e selvageria contida nisso tudo. O dono de escola manda embora todos os professores. Chega de empregados. Para que continuar gastando com os direitos trabalhistas dos outros (salário mínimo, remuneração superior pela horaextra, férias, décimoterceiro salário, etc.)?
Paga o que lhes deve, de acordo com a Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT) e, no dia seguinte, recontrata as mesmas pessoas, agora como empresa prestadora de serviços (afinal, pessoa jurídica não é empregada, não tem direitos trabalhistas).
Oferecelhes, então, a metade do que ganhavam. Caso não aceitem, a fila de desempregados é grande, algum exprofessor (agora "PJ"), com certeza, acaba aceitando. Defender a terceirização sem limites é assumir uma posição em defesa do lucro, apenas. Empregado custa muito caro, dizem. É um "gasto" que reduz os ganhos com o negócio.
Se é muito boa para o empresário, a terceirização é uma desgraça para o trabalhador que nunca viu o "capital" (não recebeu herança da família nem ajuda de ninguém) e só tem a sua força de trabalho para vender no mercado. Desvalorizando o professor, é um desfavor, também, à educação. É uma afronta aos direitos sociais.
Mas isso é argumento de gente tonta que insiste em acreditar que este país é uma democracia e que a Constituição Federal ainda vale, mesmo quando contraria o interesse dos graúdos. (Fonte: UOL)