O crédito total queos brasileiros usam para comprar carro, casa e outros bens, além definanciamentos no cartão de crédito, no cheque especial e do crédito para usopessoal, deve registrar neste ano a menor taxa de expansão desde 2003. A pisadano freio no ritmo de oferta de financiamentos sinalizada pelos bancos públicos,o encarecimento do crédito e o menor avanço na renda do trabalhador reforçam aperspectiva de desaceleração no volume de empréstimos.
Para 2014, o saldo dacarteira de recursos destinados às compras das pessoas físicas, incluindorecursos livres e direcionados, deve atingir R$ 1,4 trilhão, com crescimento de7,8%, descontada a inflação do período, nas contas das Tendências ConsultoriaIntegrada. Se a projeção se confirmar, este será o quarto ano consecutivo dedesaceleração do ritmo de crescimento do crédito a pessoas físicas. Em 2013, aexpansão real foi de 9,8%, e em 2011 e 2012, de 11,4% e de 10,4%,respectivamente. Em períodos anteriores, o crescimento passava de 20% ao ano.
"Depois da festado crédito ao consumidor, este será um ano de crescimento moderado",afirma a economista da consultoria, responsável pelas projeções, MarianaOliveira. Ela atribui à desaceleração de dois pontos na taxa de crescimento dosaldo da carteira total prevista para este ano basicamente à perda de ritmo dosfinanciamentos direcionados, principalmente da carteira imobiliária.
O saldo da carteiradirecionada, que cresceu 24,7% em termos reais em 2013, deve se expandir 13,8%este ano. Para a carteira de recursos livres, que inclui veículos, créditopessoal e cartão, a projeção é de uma pequena aceleração, 3,8%, depois de umavanço de apenas 1,6% em 2013, provocado pelo tombo de 5,8% no saldo dacarteira de veículos.
"Os bancospúblicos pretendem limitar o crédito imobiliário, que deve ter umadesaceleração importante este ano", afirma Mariana. Em 2010, o saldo dacarteira de crédito imobiliário tinha crescido 47% em termos reais; no anopassado, 26%. A projeção da consultoria para este ano é de 18%.
Para o economista daLCA Consultores Wermeson França, o mercado de crédito imobiliário não terá maisa pujança dos últimos anos. Ele observa também que até mesmo o créditoconsignado, aquele com desconto na folha de pagamento, já está saturado."A concorrência é muito forte, não tem espaço para crescer e o spread estácaindo."
Aperto. Um fator quetira o fôlego da expansão do crédito é a alta dos juros, que reflete o apertomonetário, provocado pela elevação da taxa básica de juros, Selic - que sobedesde abril de 2013 e hoje está em 10,75% ao ano. Nos financiamentosimobiliários, por exemplo, a taxa de juros já aumentou 0,6 ponto porcentual dedezembro para janeiro nas linhas reguladas e mais de um ponto porcentual nosegmento de mercado. Os juros médios das linhas de financiamento com recursoslivres, que atingiram 36% ao ano em 2013, devem subir para 39,6% ao ano em2014, prevê Mariana.
Para o diretor daárea de empréstimos e financiamentos do Bradesco, José Ramos Rocha Neto, oaumento da Selic tem impacto muito pequeno nos juros cobrados nas linhas definanciamento direcionadas e, nas carteiras com recursos livres, ele diz quereflexo nas taxas ao consumidor é marginal.
O Bradesco projetapara este ano uma expansão nominal entre 11% e 15% no saldo da carteira definanciamento à pessoa física. No ano passado, o saldo cresceu 11,2%, semdescontar a inflação. Na avaliação de Rocha Neto, tanto o comportamento dos bancoscomo do consumidor está mudando. "Aquele movimento de seis anos atrás, deo consumidor emprestar o nome para obter crédito, diminuiu. Ele está maisconsciente." E, hoje, os bancos, quando percebem que o cliente estáendividado em linhas mais caras, como no cheque especial, procuram orientar amigração para as mais baratas.
Essa também é apolítica do Banco do Brasil, segundo o diretor de empréstimos e financiamentos,Edmar Casalatina. "O consumidor está consciente e buscando linhas maisbaratas." Um exemplo é a procura crescente pela linha de antecipação doImposto de Renda, que registrou nos dez primeiros dias do mês aumento de 25% emrelação a igual período de 2013.
"Os clientesprocuram financiamentos que oneram menos o orçamento, como a de antecipação doImposto de Renda, em que a taxa é de 1,69% ao mês", explica.
No ano passado, osaldo da carteira de crédito total de pessoa física do BB cresceu 16,2%, semdescontar a inflação. Para este ano, Casalatina projeta uma expansão entre 12%e 16%.
Mais cautela. Depoisdo boom de consumo, endividamento, inadimplência e renegociação de pendênciasno ano passado, o brasileiro está tentando assumir menos dívidas em 2014. Essaé a avaliação de Nicola Tingas, economista-chefe da Associação Nacional dasInstituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi).
Segundo ele, esseajuste no crédito em 2013, tanto entre os consumidores, que renegociaram asdívidas em atraso, como entre os bancos, que ficaram mais rigorosos nasconcessões, deve melhorar a qualidade do mercado de financiamentos neste ano."Existe um amadurecimento na tomada de crédito e a economia está hojemenos alavancada", diz.
Pesquisa do Serviçode Proteção ao Crédito (SPC Brasil) mostra que, em fevereiro, o número deconsultas para vendas a prazo em todo o País cresceu apenas 0,69% em relação a2013. Em fevereiro do ano passado, o indicador tinha aumentado 11,23% ante omesmo mês de 2012. Em termos anuais, o resultado de fevereiro último foi o maisfraco desde agosto.
Na opinião daeconomista do SPC Brasil, Luiza Rodrigues, o dado mostra que os lojistas estãomais criteriosos na concessão de crédito e os consumidores não estão dispostosa assumir novas dívidas. Outra informação que reforça essa tendência é que caiuo número médio de dívidas por consumidor inadimplente nos últimos seis meses.

Fonte: Estadão
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