Atarde de 26 de março foi especial para o bancário André de Souza Nascimento. Nessedia o trabalhador compareceu ao prédio da Torre, do Santander em São Paulo,para ser reintegrado ao trabalho. A recondução obedeceu a decisão da Justiça – emresposta a ação movida pelo Sindicato – ao considerar que houve discriminaçãopelo banco espanhol na demissão do funcionário com deficiência.
“Mesinto orgulhoso não apenas pelo fato de ter reconquistado meu emprego, mastambém por mostrar ao banco que temos um Sindicato disposto a lutar ao nossolado”, afirmou o trabalhador.
Do céu ao inferno
Andréingressou no banco em 2012, por meio da Lei das Cotas (8213/91) que determinaàs empresas com mais de mil funcionários terem no mínimo 5% do quadro ocupado porpessoas com deficiência. “Foi um dos dias mais felizes da minha vida quandosoube que trabalharia no banco. Sofri acidente de moto em 2007 e o movimento deminha mão direita foi comprometido. Tive até de fazer enxerto. Desde então, comessa dificuldade, não conseguia colocação que garantisse salário mensal. Penseique o banco seria o início de uma nova fase para mim e minha família.”
Adecepção do trabalhador veio logo no primeiro dia no serviço. Ele foi destacadopara atuar no SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente) localizado na Rua BráulioGomes, no Centro. Ali tinha de digitar constantemente enquanto atendia àclientela, mas não conseguia acompanhar o ritmo dos demais funcionários. “Desdeo primeiro momento alertei que teria dificuldade em fazer aquela tarefa.
Enquantoos outros levavam entre cinco e sete minutos eu demorava até 15 para concluirum chamado”, recorda o empregado. “Era cobrado a todo momento para aumentar aprodutividade. Só que não tinha como, pois sou destro e foi justamente minhamão direita que ficou com movimentos comprometidos. Devido ao enxerto tambémnão podia apoiar o punho, pois sentia pequenos ‘choques’. Para evitar esseincômodo trabalhava com o braço um pouco erguido. Depois de algumas horas jáestava exausto física e mentalmente.”
Tantoesforço constante em quase três meses de trabalho em 2012 levou o funcionário acomprometer ainda mais sua saúde, chegando a contrair mais uma lesão em sua mãodireita.
Obancário é enfático ao dizer que o Santander não levou em consideração suacondição física ao destacá-lo para esse setor. “Quando somos contratados pelascotas entregamos laudos e exames comprovando o estado físico. Isso serve tambémpara as empresas encaminharem as pessoas com deficiência a tarefas que nãocomprometam sua saúde. Em todos os momentos deixei claro que estava sendoprejudicado, pedi transferência, mas ninguém me ouviu.”
Sindicato
Diantedas recusas do banco em transferi-lo para outro setor, André entrou em contatocom o Sindicato. “Por várias vezes falamos com o Santander. Deixamos claro quenão tinha condições de mantê-lo no call center. Na mesma semana que veioreposta de que poderia haver transferência, ele foi demitido”, relata adiretora executiva do Sindicato Vera Marchioni.
Areconquista do emprego veio por meio de ação movida pelo Sindicato e que tevedecisão favorável da juíza Tamara Valdívia Abul Hiss, da 34ª Vara do Trabalhode São Paulo. Em sua justificativa, ela deixa claro que o Santander sabia dacondição do empregado com deficiência e não lhe foram dadas as devidascondições para trabalhar. “Dessa forma, considerando que o direito doempregador encontra limites na necessária proteção à dignidade da pessoa humanado trabalhador, não se admitindo quaisquer formas de discriminação, entendo queo reclamante foi dispensado em razão de sua deficiência física, caracterizandoassim a dispensa discriminatória, a ensejar a sua reintegração”, consta dasentença.
Reintegração
Depoisda reintegração formal, o Santander tem até 10 de abril para encaminhar obancário para outro setor. “Todos os bancários com deficiência têm de denunciarse estiverem sendo prejudicados como eu fui. Se não reclamarmos, não teremoscomo reparar esses erros”, finaliza André.
Adecisão judicial determina a reintegração imediata de André, mas o banco poderecorrer da sentença. (Fonte: SEEB SP)