Omais longo ciclo de alta do juro básico do governo Dilma e a instabilidade nomercado acionário estão atraindo cada vez mais investidores para as letras decrédito. Esses títulos de renda fixa têm o rendimento atrelado ao CDI - taxadas operações interbancárias que fica muito próxima à Selic - e contam comisenção de Imposto de Renda, o seu principal chamariz.
Entre2011 e 2013, a participação desses produtos na carteira de tesouraria dosbancos triplicou, passando de 10% para 31% do volume aplicado. Os dados fazemparte de levantamento da Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiroe de Capitais (Anbima).
"Avolatilidade, tanto na renda fixa como na Bolsa, fez com que os investidoresbuscassem um porto seguro para as aplicações. E a alta do juro intensificou aprocura por produtos atrelados à Selic e DI. No caso das letras, ainda há oatrativo da isenção", afirma o coordenador do subcomitê de dados do varejoda Anbima, Rodrigo Ayub.
Osbancos dependem de um tipo de lastro específico para emitir esses títulos. Comoos nomes já dizem, a Letra de Crédito Imobiliário (LCI) é lastreada porcréditos imobiliários garantidos por hipotecas, enquanto a Letra de Crédito doAgronegócio (LCA) é vinculada ao crédito agrícola. A isenção fiscal concedidapelo governo é uma forma de fomentar esses dois setores da economia. Hoje há noPaís um estoque de R$ 111,7 bilhões em LCI e de R$ 124,2 bilhões em LCA,segundo dados da Cetip, a central depositária de títulos privados, e daBM&FBovespa.
Mesmoconservadores, esses investimentos são boas alternativas para quem buscasuperar a rentabilidade da poupança, especialmente em um cenário de alta dejuros. Mas o pequeno investidor encontrará uma série de entraves pela frente.
"LCIe LCA exigem uma carência maior. Não é como o CDB, que você compra hoje eamanhã pode vender. É necessário ficar com o título durante um mês, 90 dias ouaté dois anos. E o pequeno investidor geralmente tem planos de curto e médioprazos", diz o coordenador do Laboratório de Finanças do Insper, MichaelViriato.
EntreCDB e letras, o importante é comparar liquidez, rentabilidade e prazos. Para asuperintendente de investimentos do Santander, Sinara Polycarpo, LCI e LCAcompensam para aplicações por até dois anos. "Depois desse prazo, o CDBfica mais interessante, porque a alíquota do IR é reduzida para 15% e o efeitode juros sobre juros é mais vantajoso", afirma.
Outroobstáculo é o limite mínimo de aplicação - atualmente em torno de R$ 30 mil.Apenas o Banco do Brasil tem opções de letras para quem tem menos dinheiro parainvestir: a LCI pode ser emitida a partir de R$ 1 mil. "Começamos a operarLCI em meados do ano passado. Saímos de zero para R$ 8 bilhões desdeentão", diz o diretor de empréstimos e financiamentos do BB, EdmarCasalatina.
ALCA, por outro lado, é ofertada para aplicações a partir de R$ 30 mil. O Bancodo Brasil é o maior financiador do agronegócio, com uma carteira de crédito deR$ 144,8 bilhões e 66% do mercado. O lastro permite que o saldo de LCA do BBseja alto, de R$ 87 bilhões.
SEGURANÇA
Asduas modalidades de letras contam com a proteção do Fundo Garantidor de Crédito(FGC), o que ajuda a tornar o investimento mais atrativo e seguro. Em caso defalência do emissor, o FGC cobre até R$ 250 mil por investidor. Com essaretaguarda, o poupador pode buscar maior rentabilidade em bancos médios.
Simulaçãofeita pelo CEO da Soma Invest, Marcio Neubauer, mostra que a diferença deganhos é significativa. Um investimento de R$ 30 mil durante um ano em uma LCIde banco médio rende R$ 3.110 40, contra R$ 2.721,60 em um concorrente maior.Uma diferença de R$ 389. No caso da LCA, o valor a mais seria de R$ 486."Se fossem aplicados R$ 200 mil, o ganho adicional no ano saltaria para R$2.952 no caso da LCI e para R$ 3.240 na LCA", destaca Neubauer.
NoDaycoval, o estoque de LCI e LCA cresceu 70% no ano passado na comparação com2012. A instituição tem R$ 500 milhões captados com as duas modalidades."Não avançamos mais pela limitação do lastro", afirma odiretor-executivo do banco, Morris Dayan. Para competir com os grandes, oDaycoval chega a pagar 99% do CDI nas duas letras. A Caixa Econômica Federal,por exemplo, oferece 84% na LCI. Com mais de dois terços do mercado de financiamentode imóveis, a Caixa é o principal operador desse crédito no País. No anopassado, bateu recorde de R$ 134,9 bilhões em contratações.
Segundoo diretor de Clientes e Estratégia de Varejo da instituição, Édilo Valadares,houve um forte crescimento no número de investidores em letras imobiliárias noúltimo ano: de 117 mil para 172 mil. E o estoque de LCI praticamente dobrouentre 2012 e 2013: de R$ 26 bilhões para R$ 51 bilhões.
Fonte:Agência Estado