Antesrestrita à máquina publica estatal, o PT expande a ocupação de espaços emdireção ao setor privado e já preocupa os segurados da Caixa de Previdência dosFuncionários do Banco do Brasil - a Previ, o maior fundo de pensão do país e daAmérica Latina com seus 198 mil associados e ativos estimados em mais de R$ 170bilhões.
Capturadapela Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Previ se transformou numinstrumento para indicações do PT - e alguns poucos aliados - aos conselhos dasempresas nas quais o fundo tem participação. O processo se intensificou com aeleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o aumento da influênciado partido na cúpula do BB.
Levantamentodo Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, identificou pelomenos 50 petistas e aliados que fizeram composições eleitorais com o partido,além de diretores indicados pelo Banco do Brasil na gestão do PT, comorepresentantes do fundo nos conselhos de administração e fiscalização de 26empresas nas quais a Previ é acionista.
Entreos conselheiros indicados pelo fundo de pensão, 27 têm carteira de filiaçãopetista no TSE
Onúmero representa um terço dos 153 conselheiros espalhados por mais de 50empreendimentos em setores que vão desde a mineração a bebidas e alimentos,passando por petróleo e gás, energia elétrica, telefonia, indústria aeronáuticae vários outros. Ao menos 27 são filiados ao PT, segundo dados do TribunalSuperior Eleitoral (TSE). O levantamento ignorou nomes que pudessem sugerir aconcorrência de homônimos.
Alémde influência nas decisões de algumas das maiores empresas do país, osconselheiros ainda contam com remuneração por participação nas reuniões. Osubsídio varia dos R$ 3 mil pagos pela Neoenergia até R$ 47 mil para quemaparecer nos encontros da Embraer. A Previ diz, em nota, que os funcionários daativa têm uma regra de autolimitação da remuneração no valor de R$ 13,9 mil.Contudo, o ex-presidente do Conselho Deliberativo da Previ Henrique Pizzolato,condenado no processo do mensalão, disse a uma CPI em 2005 que a maioriadesrespeitava essa regra.
Oaparelhamento ficou exposto na disputa eleitoral iniciada na sexta-feira paraeleger dois diretores e seis conselheiros para a Previ. Os candidatos deoposição à chapa da situação, formada principalmente por sindicalistas daCentral Única dos Trabalhadores (CUT), criticam a nomeação de petistas ealiados e pedem mais transparência na escolha.
"Osistema foi flexibilizado para que a experiência como dirigente sindical contetanto quanto a de ter sido executivo em uma empresa", diz Cecília Garcez,ex-aliada do PT que é candidata à diretoria da Previ por uma chapa que sedeclara independente de partidos políticos, mas que é apontada pelosadversários como ligada à União Geral dos Trabalhadores (UGT). "Secomparar as indicações de 10 anos atrás, hoje está muito mais concentrado, 70%[dos conselheiros] estariam ligados à CUT, alguns que não têm a menorpreparação para sentar num conselho de grandes empresas privadas", afirma.
Jáa chapa "Ética e Transparência", formada por grupos de aposentados, émais branda na crítica. Para José Branisso, candidato ao conselho fiscal, oscritérios as vezes deixam a desejar, mas não é porque a pessoa é um militantepartidário que não tenha competência para representar o fundo. "Muitosparticipantes questionam [os critérios] porque a maioria é de uma correntepolítica. Defendemos que sejam clarificados para dissipar as dúvidas.Trabalhamos em um mercado em que a confiança de quem está fazendo a gestão éfundamental."
Nalista de conselheiros da Previ em empresas encontram-se filiados a partidosaliados do governo federal - PMDB, PR, PSD e PCdoB- e petistas clássicos, comoFrancisco Ferreira Alexandre, que foi secretário da Confederação Nacional dosTrabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), diretor do Sindicato dosBancários de Alagoas e hoje tem assento no conselho de administração da Vale.
Hátambém funcionários que não são filiados ao PT, mas têm laços com o partido. Umdeles é Roberto Luiz Ribeiro Berzoini, conselheiro da Usiminas e irmão doministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini (PT) - ex-presidente doSindicato dos Bancários de São Paulo que ainda mantém influência sobre a Previ.
Outroé o ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda e estrela de primeiragrandeza na equipe do programa de governo da campanha à reeleição da presidenteDilma Roussef, Nelson Barbosa, que integra o conselho da Vale. Há tambémex-candidatos a deputado federal pelo PT, como Odali Cardoso, conselheira daempresa que administra o resort Costa do Sauípe.
Asnomeações são defendidas por José Ricardo Sasseron, ex-diretor da Contraf-CUTque concorre a uma vaga no conselho deliberativo da Previ pela chapa dasituação. "Você duvida da competência do Nelson Barbosa para representar aPrevi?", questiona. E diz que a seleção, feita pela diretoria departicipações e avalizada pelo conselho deliberativo, é rígida. "Oscritérios de escolha são claros e vem desde o Fernando Henrique Cardoso",afirma.
Subsídiospor reunião variam de R$ 3 mil na Neoenergia até R$ 47 mil na Embraer
Defato, o uso político da Previ não é exclusividade do PT. No governo do PSDB, oex-presidente Fernando Henrique Cardoso recorreu, sem parcimônia, ao fundo depensão dos funcionários do BB para viabilizar os leilões de privatizaçãorealizados no fim dos anos 1990, por meio da constituição das Sociedades dePropósito Específico (SPE).
Como caixa curto, o atual governo também vê a Previ como um parceiro fundamentalpara implementação de políticas de Estado, como a criação das chamadas empresas"campeãs nacionais", e para as concessões na área de infraestrutura,sobretudo no momento em que outros dois gigantes vinculados a estatais - Petrose Funcef - apresentam déficit em seus balanços.
Emnota dirigida ao Valor PRO, a Previ diz que o processo de seleção deconselheiros é "pautado por critérios técnicos e não considera avinculação político partidária". Afirma também que "o processo é transparente,com pré-requisitos divulgados no site da entidade". O fundo nega adeclaração de que houve flexibilização nos critérios de escolha para dar maispeso à experiência como dirigente sindical.
APrevi diz ainda que 93% dos conselheiros são ou foram funcionários de carreirado Banco do Brasil e que 85% possuem MBA ou pós-graduação em áreas comoeconomia, administração, contabilidade, engenharia de produção, e 27% possuemmestrado ou doutorado. (Fonte: Valor Econômico)


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