Nosúltimos oito anos, 67% dos 184 municípios do Ceará sofreram algum tipo deataque a banco. Foram 315 assaltos, tentativas de assaltos, furtos,arrombamentos e tentativas de arrombamentos entre novembro de 2007 e maio desteano em 125 cidades (excetuando-se o último trimestre de 2008, para o qual nãohá estatística). Os dados foram sistematizados pelo O POVO a partir derelatórios do Sindicato dos Bancários do Ceará. Não entram na conta as“saidinhas”, “chegadinhas” e ações contra carros-fortes.
Amédia mensal para o recorte temporal é de quatro ataques. Ou uma ocorrência acada sete dias dos 76 meses considerados, o que mostra como é comum esse tipode prática criminosa no Ceará. Por ter o maior número de agências do Estado econcentrar um terço da população, Fortaleza ocupa o topo do ranking.
Emnota enviada ao O POVO, a Secretaria Estadual da Segurança Pública e DefesaSocial (SSPDS) informou que desenvolve sistematicamente ações integradas entreas polícias Militar, Civil e Federal no sentido de coibir os ataques. “Váriasprisões vêm acontecendo e tendo como consequência a desarticulação de gruposcriminosos locais e interestaduais que vinham agindo no Ceará, inclusiveevitando ações que poderiam ter ocorrido”. A pasta pondera, entretanto, anecessidade de as instituições financeiras cumprirem o que determina alegislação no tocante às medidas de segurança obrigatórias.
Dos315 ataques, explosivos foram utilizados em 103 (32%). Um método que inexistiude 2007 a 2009, e surgiu de maneira tímida. Mas tornou-se recorrente. Em 2010,foi usado apenas uma vez (2,9% das situações daquele ano). Em 2011, já compunhaa estratégia de 41% dos casos (20 de 48 ataques). Em 2012, essa proporção caiupara 30%. Em números absolutos, porém, mais agências foram danificadas destaforma (23 de 76 casos). Em 2013, um novo crescimento. Tanto em númerosabsolutos (44 de 97) quanto em percentuais (45%).
Em2014, de 1º de janeiro a ontem, 1º de junho, o índice proporcional é aindamaior. Está na casa dos 50% (14 dos 28 ataques). Em alguns episódios, a agênciafica tão destruída que se torna inutilizável. E permanece assim por um bomtempo. Nos municípios interioranos, onde em geral existe apenas um banco, quemprecisa fazer transações apela para agências de outras cidades.
Pesquisadorado Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC),com foco em ataques a bancos, Jânia Perla Aquino avalia a prática como “difícilde combater por ser muito complexa”. Conforme ela, as quadrilhas investem altona preparação e execução dos planos, meticulosamente mantidos sob sigilo. Elaconsidera elevado o índice de 28 ataques em cinco meses (2014). “Cada vez maisa forma de efetuar o assalto se diversifica. As quadrilhas fazem todo umesforço para atacarem a partir de outras fragilidades. Quando está mais difícilna Capital, no Interior sempre há uma fragilidade maior. O aparato policialestá sempre atrás nesse aspecto”.
JâniaPerla explica que eventualmente os integrantes das quadrilhas de ataques abancos também compõem redes criminosas de estelionato, tráfico de armas e roubode cargas. E quase sempre atuam de forma interestadual. “A facilidade no uso detecnologias e a mobilidade pelo território faz com que as quadrilhas sejamdifíceis de serem localizadas e presas. É um desafio interminável dos estados edos aparatos de segurança”, pontua ela, que se diz a favor do Estatuto daSegurança Bancária em vigor na Capital.
Saiba mais
“Saidinhabancária” e “chegadinha bancária” são duas modalidades que diferem apenas pelolocal onde a vítima é abordada. Se for quando ela estiver indo à agência fazerum depósito, trata-se de “chegadinha”. Se for quanto estiver saindo da agênciaapós receber dinheiro, qualifica-se como “saidinha”. Em nenhum dos casos, avítima precisa estar nas imediações do banco.

Aocontrário do Sindicato dos Bancários do Ceará, O POVO não considera“saidinhas”, “chegadinhas” e ações contra carros-fortes como ataques a bancos.A reportagem compreende que os dois primeiros são crimes contra pessoasespecíficas (e não contra instituições financeiras), e que o último afeta“somente” um bem material do banco (e não uma massa coletiva de clientes).
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