Odesejo de mudança chega à Previ, à Funcef e à Petros, que movimentam R$ 280bilhões, e dirigentes sindicais petistas e executivos ligados ao governo perdemforça. Saiba como isso pode influenciar até no resultado das eleiçõespresidenciais
Osentimento de mudança captado em pesquisas eleitorais e que ameaça a hegemoniado PT chegou primeiro aos fundos de pensão. Em menos de um mês, eleiçõesrealizadas em dois dos principais fundos de previdência complementar do Paísdestronaram dirigentes sindicais e executivos ligados ao governo. Além do riscode perder o controle sobre recursos que se tornaram essenciais à política deinvestimentos do governo federal, o Palácio do Planalto teme que o voto deprotesto nos fundos contamine as urnas em outubro. A primeira derrota ocorreuna Funcef, dos funcionários da Caixa Econômica Federal, o terceiro maior. Lá, aoposição colheu expressivos 45% dos votos, contra 31% da chapa petista. Duassemanas depois, foi a vez da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, omaior em patrimônio e contribuintes. Numa disputa acirrada, os opositoresvenceram com 31%, nove pontos percentuais à frente dos governistas. A ondaanti-PT agora ameaça a Petros, dos servidores da Petrobras, o segundo maior doPaís.
VOZDA RAZÃO
ParaPaulo Paim, derrotas do PT completam "um ciclo natural de desgaste"
Previ,Petros e Funcef reúnem mais de R$ 280 bilhões em patrimônio, quase metade dosR$ 624 milhões de mais de 250 fundos em operação. Por trás dessas cifrasastronômicas, está o interesse de seis milhões de contribuintes ativos,aposentados e pensionistas. O futuro dessas pessoas depende da saúde financeiradas entidades que administram poupanças acumuladas por toda uma vida. E não setrata apenas de indivíduos, mas de famílias inteiras. No frio cálculoeleitoral, são 30 milhões de votos, mais da metade do total obtido por DilmaRousseff no segundo turno de 2010.
Imagineagora toda essa gente insatisfeita com o rumo de seus investimentos. Pois éexatamente isso que está acontecendo. Em 2013, os fundos de previdênciafecharam seus balanços com um déficit histórico de R$ 22 bilhões e o saldonegativo só cresceu na primeira metade deste ano. A Previ acumula R$ 5 bilhõesde prejuízo, a Petros tem algo próximo a R$ 3 bilhões, enquanto a Funcef jáostenta um saldo negativo de R$ 4 bilhões. Para se defender, os comandos dasentidades culpam a difícil conjuntura econômica. Levantamento da Abrap,associação que reúne o setor, indica que 262 planos de benefícios fecharam oano passado no vermelho, um aumento de quase 100% na comparação com 2012.
Paraos associados, porém, a justificativa não cola. Entre as principais bandeiraslevantadas pelas chapas vitoriosas estão justamente as críticas à ingerência eao aparelhamento promovido pelos petistas. “Nos últimos anos, ficou patente ointeresse do governo em viabilizar seus projetos em detrimento da rentabilidadeda previdência”, afirma o novo diretor de administração da Funcef, AntônioAugusto de Miranda. Ele pondera que no governo de Fernando Henrique o uso dosfundos era explícito. Após a chegada de Lula ao poder, criou-se um novo marcoregulador que prometia proteção. Abriu-se a oportunidade de eleição paraconselheiros e, posteriormente, para diretores. Essa dinâmica, porém, retroagiuquando o PT percebeu o poder que tinha nas mãos. “O governo passou a usar osfundos para viabilizar concessões públicas e empreendimentos em que o mercadonão tinha interesse”, avalia.
Aoaparelhamento, somam-se a pouca transparência na gestão e o alto déficit. Nalista de negócios que o governo empurrou para a Funcef, Miranda destaca o casoda Brandes, empresa que prometia desenvolver em parceria com a IBM uma soluçãotecnológica para financiamento imobiliário na internet. Ficou no papel econsumiu R$ 1,2 bilhão. Outra foi a Eldorado Florestal, que também não existia,e a ALL Logística, que só deu prejuízo. A gota d’água foi a denúncia de que odeputado André Vargas intermediou uma reunião do doleiro Alberto Youssef com odiretor de participações societárias, Carlos Borges, nomeado pela Caixa. “Ocaso Youssef simbolizou o grau de ameaça que paira sobre a destinação dosrecursos dos fundos. O alinhamento político canaliza esse tipo de negociata,como ocorreu na Postalis”, alerta Miranda.
NaPrevi, a eleição garantiu mudanças substanciais no conselho deliberativo, noconsultivo e na diretoria-executiva. A chapa vencedora é formada por auditoresde carreira do BB. Apesar do alegado perfil técnico, ela foi organizada nosbastidores por Valmir Camilo, que já foi filiado ao PPS, e com apoio daConfederação Nacional dos Trabalhadores nas Empresas de Crédito (Contec), cujopresidente, Lourenço Prado, é do PMDB do Distrito Federal. Recentemente, aContec também andou cortejando o pré-candidato presidencial do PSB, EduardoCampos. Essa chapa multipartidária emplacou três diretores, entre eles CecíliaGarcez (administração), ex-diretora de planejamento da Previ entre 2004 a 2010.À ISTOÉ, Camilo diz que não é militante partidário e sua relação com o PPS épela amizade com Roberto Freire. “Nem sou mais filiado”, diz.
Ex-membrodo conselho deliberativo da Previ, Camilo avalia que o desgaste do PT eraprevisível e se refletiu numa insegurança generalizada entre os participantesdo fundo quanto à administração dos ativos. Ele cita como exemplos de “umagestão nebulosa” o uso da Previ na criação da Oi, da BR Foods e da Invepar. “OTasso Jereissati tinha R$ 150 milhões para investir num negócio de R$ 3 bilhõese uma dívida de R$ 700 milhões com o Bradesco. De repente, virou dono de tudo.Não há fórmula matemática que explique isso!”, ataca. Segundo ele, a Previperdeu oito anos na gestão de Sérgio Rosa, que deixou o fundo no “pilotoautomático”.
Ogoverno continua com alguns dos cargos principais, que são privativos denomeação do presidente do BB. Manteve o presidente, Dan Conrado, e indicou comodiretor de investimentos Márcio Hamilton Ferreira, no lugar de Renê Sanda, ojaponês. Também nomeou Marcio Geovanne como diretor de participações. O cargoera eletivo até 1997 e a nova chapa cogita recuperá-lo. Conrado confidenciou aalguns amigos que estava cansado e queria sair e o PT pensou em emplacar RobsonRocha, que ocupa hoje uma das vice-presidências do banco. Mas o governoresolveu deixar como está para evitar mais lenha na fogueira. Conrado entroupara pacificar a crise deflagrada em 2012 pelo então presidente da Previ,Ricardo Flores, ligado ao PT de Zé Dirceu. Para o senador Paulo Paim (PT-RS),que tem origem sindical – chegou a secretário-geral da CUT –, as derrotas dopartido no comando dos fundos é um processo natural. “Acho que é um ciclonatural de desgaste de quem está na direção das entidades. O próprio movimentosindical está passando por isso”, diz.

Fonte:Istoé
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