A abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff ocorre no meio do que pode se tornar a recessão mais longa da história recente da economia brasileira. O cenário se assemelha ao que existia em 1992, quando Fernando Collor de Melo perdeu seu mandato no fim de uma recessão que durou 11 trimestres, mas é pior.

Segundo o Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace), que estabelece o início e o fim das recessões, a economia brasileira entrou em território negativo no segundo trimestre do ano passado. Foram, portanto seis trimestre já de retração da economia. Já é certo que a produção continua encolhendo neste quarto trimestre e que dificilmente haverá uma recuperação antes do segundo semestre de 2016. É alta a probabilidade de se baterem os 11 trimestres de 1989-1992.

Há, porém, um componente mais grave: a recessão desta vez é mais profunda. Apesar de a crise dos anos 90 ter começado em 1989, aquele ano ainda apresentou crescimento de 3,16%. No ano seguinte, com o Plano Collor, que confiscou poupanças e paralisou a economia, o recuo do PIB foi de 4,35%, seguido de uma leve recuperação em 1991 (1,03%) e um recuo pequeno em 1992 (0,54%).

Os dados do PIB divulgados na última terça-feira, relativos ao terceiro trimestre deste ano, foram piores do que previa a maioria dos analistas de mercado. Houve uma retração de 4,5% na comparação com o mesmo período do ano passado, o pior tombo nessa comparação desde 1996, quando começou a atual série do IBGE. Se o processo de impeachment prosperar, ele ocorrerá antes de a economia bater no “fundo do poço” (diferente do caso de Collor, portanto, que foi cassado quando a economia já saía da recessão).

Na próxima segunda-feira, os dados de previsão para o crescimento da economia colhidos pela Pesquisa Focus do Banco Central serão revisados para baixo. Encostarão em uma queda de 4% em 2015. Se a economia parasse hoje de piorar, teríamos “comprada” para o ano que vem um encolhimento de 2%, talvez 2,5% do PIB, só pelo chamado carregamento estatístico.

Os sinais são de que podemos esperar alguma piora, dependendo dos desdobramentos do impeachment. Dados antecedentes do quarto trimestre, como a produção de papel ondulado (queda anual de 4,4% em outubro) e o tráfego nas rodovias pedagiadas (queda anual de 8% em outubro para veículos pesados) não indicam recuperação. E a produção industrial continua encolhendo a uma velocidade que assusta – segundo dados divulgados nesta quinta-feira (3), o setor teve queda 11,2% em outubro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. O processo de impeachment, portanto, começa com a economia pesando contra a presidente Dilma. (Fonte: Gazeta do Povo)
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