A proposta de jornada de trabalho de 80 horas semanais, feita pelo presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, foi encarada como deboche pela União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a totalidade das centrais sindicais brasileiras. A declaração veio após reunião com o presidente interino Michel Temer e cerca de 100 empresários do Comitê de Líderes da MEI (Mobilização Empresarial pela Inovação), em 8/07.

Inaceitável pensar em carga horária de 12 horas diárias, o equivalente a metade do dia, em um momento em que o Brasil figura entre os países cujos empregados mais trabalham em todo o mundo, na mesma proporção com que pagam os maiores impostos do planeta.

Pior ainda quando a sugestão parte de um líder empresarial, que deveria perceber que a superação da crise passa por reformas efetivas, que combatem os verdadeiros males da economia, que são os juros altos, que forçam a dívida pública, o controle da inflação e a cobrança dos reais devedores da Previdência, entre eles o próprio estado e maus empresários, que sonegam o que devem para os cofres públicos e reduzem o alcance do poder público.

IRRESPONSABILIDADE E FALTA DE PROPÓSITOS
Secretário Nacional de Fomento Institucional da UGT, Gilmar Pedruzzi acusa a proposta de Andrade como irresponsável, por tentar desviar o debate do foco principal, que é o respeito à tese do trabalho decente e ao que pregam as convenções internacionais, quando versam sobre justiça social e respeito aos direitos humanos, em frontal desacordo com a prática do trabalho escravo.

Enquanto o presidente da CNI desafora a classe trabalhadora, pesquisas apontam sentido inverso à história do trabalho no Brasil. Estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio Econômicos (DIEESE), por exemplo, atesta que a redução da jornada de trabalho de 44 para 40 horas semanais poderá gerar mais de 2 milhões de novos postos de trabalho. Também o Instituto de Pesquisas Aplicada (IPEA) sustenta que uma jornada de 12 horas semanais seria suficiente para produzir a mesma riqueza produzida com uma jornada legal de 44 horas.

RETROCESSO E REACIONARISMO
Pedruzzi, que também é diretor da Fetecfergs, lembra que foi no Século 19 que a escravidão começou a ser abolida em todo o mundo, com o fim das práticas escravistas, e que, no Brasil, mesmo com a abolição oficial, em 1888, o estado não se preocupou em oferecer condições para que os trabalhadores que eram escravos pudessem ser integrados ao mercado de trabalho formal e assalariado.

“Foram os trabalhadores que lutaram para construir um cenário em que, tanto o trabalho como os salários fossem valorizados”, afirma o sindicalista, que lembra o motivo da adoção do dia 1º de Maio como data maior dos trabalhadores. Em 1886, a luta pela redução da jornada de trabalho, a partir de greve histórica promovida em Chicago, nos Estados Unidos, imortalizou a data.

“Vozes dissonantes, como a de Robson Braga de Andrade, são a expressão do retrocesso e representam ofensa ao Direito do Trabalho, à democracia e à soberania nacional”, adverte Gilmar Pedruzzi. Renato Ilha, jornalista (MTb 10.300) Fonte: UGT
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