Banco Central estuda mudanças no cheque especial (Por PATRICIA VALLE)

 A crise econômica puniu os maus hábitos de uso de crédito dos brasileiros, e hoje, grande parte da população está endividada. Segundo dados da Serasa Experience, o número de brasileiros inadimplentes bateu recorde em abril, chegando a 63,2 milhões de pessoas. Com isso, 40,4% da população adulta do país está com dívidas atrasadas e negativadas. Entre os vilões desses brasileiros estão diversas modalidades de crédito, como o cartão de crédito e financiamento do carro, mas nenhum tem juros tão explosivos quanto o cheque especial — 323,3% ao ano.


Segundo estudos do Banco Central, é a população de mais baixa renda a que está mais presa com essa modalidade de crédito, com 44% dos usuários tendo renda de até dois salários mínimos. Os resultados também mostram que 19,5% do total de usuários de 2018 utilizaram o cheque especial em todos os doze meses do ano. E que mais de 50% tomaram esse crédito por mais de seis meses.


A verdade é que é muito fácil entrar no cheque especial, e bastante difícil sair sem disciplina. Diferente de outras modalidades de crédito, não há regulação no limite que pode ser ofertado ao consumidor, ficando a cargo dos bancos escolherem — que muitas vezes liberam um valor muito acima da renda mensal do cliente.


Nessa conjuntura, o novo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse em entrevista ao jornal Valor Econômico que o cheque especial é responsável por 10% dos resultados de crédito dos bancos, e que está analisando alternativas para baixar os juros da modalidade. A Federação Brasileira de Bancos não quis comentar.


— O cheque especial é para ser a última opção, mas é usado com frequência. Um em cada quatro usuários do aplicativo usou neste ano. A população precisa de educação financeira — diz Julio Duram, diretor de produto e tecnologia do Guiabolso.


Thiago Lombardi, Gerente superior de logística de 34 anos, caiu na armadilha do cheque especial e viu como é importante ter um melhor controle financeiro:


— Uma complicação médica gerou gastos inesperados, e sem reservas, recorri ao cheque especial, acreditando que conseguiria pagar rapidamente diminuindo os gastos. Mas a verdade é que com os altos juros eu fui me enrolando. Comecei negativo em R$ 500 e em seis meses já estava em R$ 6.500. Meu salário caía e o banco já tirava para pagar o limite, e eu precisa usar de novo para pagar as contas. Até que estourei o cheque especial e fiquei inadimplente. Só então fui buscar renegociar as dívidas em melhores condições com um crédito com garantia. Hoje vejo a importância de planejar gastos, ter disciplina e poupar para emergências.


Veja como evitar a armadilha do cheque especial


Como não entrar


Não considere o limite parte da sua renda

Muitas pessoas consideram o limite do cheque especial como parte da sua renda, como um outro dinheiro disponível. E assim, estão sempre negativados. Esse é o primeiro erro, porque uma hora pode não ser possível pagar. O crédito só deve ser usado em emergências de curto prazo.


Acompanhe sempre sua conta e saldo

É muito importante ter um controle dos seus gastos. Muitos bancos dão crédito pré aprovado no cheque especial, sendo possível entrar no negativo sem saber. E às vezes, não sendo nem avisado. O jeito é acompanhar sempre o saldo e não gastar acima disso.


Crie uma reserva de emergência

Imprevistos podem acontecer e ser necessário gastar mais do que previsto. O cheque especial é para esses momentos, mas para quem tem uma reserva, não será necessário. É preciso ter disciplina e poupar. Planejar seus gastos com planilhas ou aplicativos podem ajudar a ver onde é possível economizar.


Como sair do crédito


Troque de dívida

Os juros do cheque especial são os mais caros do mercado, já que é para se ficar pouco tempo no crédito. Mas se isso não for possível , é preciso trocar essa dívida por uma mais barata. Existem diversas opções ,como o crédito pessoal comum , que tem juros 2,5 vezes menor, até o crédito com garantia, que tem os menores juros do mercado. É preciso ver qual se adequá melhor ao seu perfil de dívida.


Pesquise melhores opções de crédito

Não é porque a sua dívida é com o seu banco que você achará a melhor opção para trocá-la lá. Geralmente os grandes bancos possuem as maiores taxas de juros. Hoje a oferta de crédito é muito maior no mercado. É importante pesquisar em bancos menores e fintechs de crédito, que podem oferecer condições muito mais vantajosas. (Fonte: Extra)

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