Ex-ministro da Fazenda no governo de José Sarney, durante o período de hiperinflação em fins dos anos 1980, defende a queda dos juros (Cláudia Dianni)

O economista Maílson da Nóbrega disse que “os bancos vão ganhar mais, quando os juros caírem, porque vão emprestar mais e com menor risco”. Ele foi um dos palestrantes, hoje de manhã, no seminário Como Fazer os Juros Caírem no Brasil?, promovido pelo Correio com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). “Não há nada parecido com a taxa de recuperação de crédito no Brasil, de apenas 13%”, disse. De acordo com o economista, os bancos no Brasil levam quatro anos para recuperar os crédito, enquanto no Reino Unidos a taxa média de recuperação é de 89%, em um ano e meio.Continua depois da publicidade

Em sua palestra, Maílson falou sobre as razões do juros bancários serem tão altos no Brasil, chegando a 320%, no caso do cheque especial, mesmo com a Selic, a taxa básica de juros da economia, estar em 6% ao ano, o patamar mais baixo da história. “É difícil explicar para as pessoas que a selic é 6%, mas que ela vai pagar 320% de cheque especial”. Segundo Maílson, os altos custos administrativos representam apenas 15% do spread cobrado pelos bancos (diferença entre o custo de captação e o preço dos empréstimos). “O resto são custos trabalhistas, tributários, regulatórios, entre outros”, afirmou.

“Há muitos mitos envolvendo os bancos no Brasil, como que os bancos gostam de juros altos, que no Brasil os juros altos são uma consequência da concentração bancária e que os bancos são o segmentos que mais lucram”, disse. Para Maílson, há outras razões que explicam a dificuldade de baixar os juros, como o baixo nível de poupança, de cerca de 16% com relação ao Produto Interno Bruto (PIB), além do risco fiscal do país, ou seja, a possibilidade de calote do setor público.


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“Além disso, há uma segmentação do crédito que reduz a potência da política monetária, que é o poder do Banco Central de influenciar o mercado com a taxa de juros. Metade do crédito do Brasil não sofre qualquer influência da taxa básica de juros”, explicou. Na opinião do economista, a taxa de juros poderia ser a metade se o crédito no Brasil não fosse tão segmentado entre tantas várias, como habitacional, rural e os empréstimos oferecidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômicos e Social (BNDES).  


Para ele, a insegurança jurídica é outro fator que encarece o crédito. “É difícil fazer cumprir contrato no Brasil quando temos temos um sistema judiciário que é pró-devedor e contra o credor. A tributação das transações financeiras é muito alta. Não tem paralelo no mundo”. Ele se referia à cobrança de  IOF, PIS, Cofins. “E o governo está sugerindo o retorno da CPMF  (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) justamente no momento em que tem mais liberais por metro quadrado no Ministério da Economia. Isso é incrível”.


Ele comemorou, porém, o aumento do mercado de capitais no Brasil que, segundo disse, está se transformando na fonte básica de crédito, apesar de corresponder a apenas 20% das operações de crédito, enquanto nos Estados Unidos, representam 80%. “O mais importante para reduzir os juros é restabelecer a capacidade do Brasil de crescer”, concluiu.

Maílson da Nóbrega foi ministro da Fazenda durante o governo do ex-presidente José Sarney, na época da hiperinflação. Ele foi responsável pela implementação do pacote econômico de orientação heterodoxa, que ficou conhecido como "Plano Verão", o quarto e último do governo Sarney, que tentou controlar a escalada inflacionária em ano eleitoral, criou uma nova moeda, o cruzado novo,  com desvalorização de 14% da moeda perante o dólar, e congelou preços. (Fonte: Correio Braziliense)

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