Estatal oferece acordos de R$ 50 mil a R$ 200 mil, manutenção de plano médico e de auxílio educacional

18.fev.2020 às 2h00 (Por Katna Baran) Paralisação em frente a edifício da Petrobras no Rio de Janeiro Alex Ferro - foto - Divulgação
A placa acima de uma das barracas dos acampados anuncia: são 28 dias de espera por negociações diante do iminente fechamento da Ansa (Araucária Nitrogenados), antiga FafenPR (Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados do Paraná).

Os cerca de 1.000 trabalhadores —396 empregados e 600 terceirizados— foram comunicados pela Petrobras ainda em janeiro da hibernação da estrutura, a ocorrer num prazo máximo de 90 dias. Na manhã desta segunda-feira (17), ao menos 30 deles estavam mobilizados em frente ao local pela permanência da fábrica e manutenção dos empregos.

O Sindiquímica-PR (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas do Paraná) afirma que, até então, não houve negociação coletiva diante das demissões em massa, o que violaria um acordo coletivo de trabalho com a empresa.

“É sabido que outras unidades fecharam e foram privatizadas, mas não de maneira abrupta como aconteceu aqui. O trabalhador não conseguiu se preparar, o sindicato e a federação não foram envolvidos para fazer uma conversa. Foi uma decisão unilateral e radical”, aponta Alexandre dos Santos, diretor do sindicato.

Há 15 anos, Santos atua como técnico em segurança do trabalho na unidade que fica em Araucária, na região metropolitana de Curitiba.

A fabricante aproveita o resíduo asfáltico da Repar (Refinaria Presidente Getúlio Vargas), a poucos metros dali, e produz compostos de fertilizantes. Chega a gerar 700 mil toneladas de ureia e 475 mil toneladas de amônia por ano. Também é considerada a maior planta do mundo na produção de Arla 32 (Agente Redutor Líquido Automotivo), produto que misturado ao diesel reduz a emissão de poluentes.

“Vivi vários períodos na empresa, mas jamais imaginei que, com a vinda da Petrobras, ia fechar — muito pelo contrário”, aponta o ex-operador da Ansa Otêmio Garcia de Lima. Ele se aposentou antes do anúncio de desmonte, em novembro de 2019, após 33 anos de serviço. Mesmo fora da ativa, integra o coro para manutenção da empresa no acampamento em frente ao local.

A venda da fábrica pela Vale Fertilizantes para a Petrobras ocorreu em 2013. Desde então, segundo comunicado da estatal, só acumulou prejuízos, já que a matéria-prima ficou mais cara que o produto final. Segundo a Petrobras, foram R$ 250 milhões em perdas só em 2019.

“A gente não deve [esse dinheiro]. Se a matéria-prima vem da Petrobras, a Petrobras está cobrando da Petrobras. O que ocorreu é que chutaram tanto nossa unidade que, quem ia comprar [a fábrica], desistiu”, retruca o supervisor de mecânica Gerson Henrique Maciel.

Empregado há 17 anos, ele foi um dos cerca de 150 funcionários da Ansa que já recebeu uma carta da empresa na tentativa de fechar acordos individuais de demissão.

O QUE OS PETROLEIROS QUEREM
 - Protestam contra o fechamento da fábrica de fertilizantes Araucária Nitrogenados, no Paraná
 - Todos os 396 trabalhadores da unidade serão demitidos
 - Os petroleiros acusam a empresa de desrespeitar o acordo coletivo de trabalho ao anunciar as demissões sem negociação com sindicatos

O QUE DIZ A PETROBRAS 
 - A Petrobras alega que a fábrica dá prejuízo
 - Depois de uma tentativa fracassada de venda, decidiu fechar a unidade, que foi adquirida da Vale em 2012
 - A empresa tem parecer do TST impedindo a transferência dos empregados para outras unidades, já que não foram admitidos por concurso

A empresa está oferecendo pacotes com adicionais que variam de R$ 50 mil a R$ 200 mil, de acordo com a remuneração e o tempo de trabalho, manutenção de plano médico e odontológico, benefício farmácia e auxílio educacional por até 24 meses, além de uma assessoria especializada em recolocação profissional por seis meses.

Segundo o Sindiquímica, menos de uma dezena de funcionários aderiu ao plano da empresa, na maioria aposentados que ainda estavam na ativa.

“Pra mim dói ver que em 17 anos que estou aqui e pelo que todo mundo lutava, uma empresa desse tamanho veio e jogou no lixo. Vi muita gente que chorou devido à perda estamos tendo”, desabafa Maciel.

O desmonte da fábrica de fertilizantes em Araucária também acendeu o alerta dos integrantes do Sindipetro do Paraná. A poucos metros da Ansa, eles também aderiram à greve nacional dos petroleiros e mantêm acampamento em frente à Repar. A unidade de refino do estado integra o pacote de privatizações do governo federal.

Segundo o sindicato, dos cerca de 700 trabalhadores da unidade, a adesão é de 90% na área operacional e de 40% do administrativo. Apesar disso, nesta segunda-feira (17) pela manhã, apenas 40 pessoas se reuniam no local.

Alguns deles tentavam convencer colegas que diariamente entram na unidade com proteção policial a integrarem o movimento. A greve se estende desde o dia 1º de fevereiro.

“Desde o início do atual governo não há negociação com a Petrobras em momento algum”, reclama o diretor do Sindipetro no Paraná Mário Dal Zot. Ele resume a paralisação como uma resposta “ao descaso” da atual gestão com o trabalhador da empresa.

Para Zot, a mobilização dos petroleiros pode ser tornar exemplo para outras categorias de trabalhadores em relação às políticas de privatização da gestão do presidente Jair Bolsonaro.

ONDE A GREVE TEVE ADESÃO, SEGUNDO A FEDERAÇÃO ÚNICA DOS PETROLEIROS 

8 plataformas 
que representam 44% do total de unidades marítimas de produção operadas pela Petrobras

46% da produção
nacional de petróleo em dezembro, ou 1,4 milhão de barris, vieram dessas plataformas

11 refinarias
Há adesão em todas as grandes unidades do país

24 terminais 
8 campos terrestres
8 termelétricas
3 térmicas
1 usina de biocombustível
1 fábrica de fertilizantes
1 fábrica de lubrificantes
1 usina de processamento de asfalto
2 unidades industriais
3 bases administrativas
Fontes: FUP e ANP

“A gente conseguiu pautar na sociedade a questão do preço dos combustíveis. O Brasil tira o petróleo do pré-sal, refina a baixíssimo custo e a população, que é a verdadeira acionista da Petrobras, não tem isso reflexo na bomba de combustível e no botijão de gás”, avalia.

Para o técnico em manutenção Ricardo Marinho, há 31 anos funcionário da Petrobras, ocorre um desmonte na estatal, o que prejudica, além dos empregados, o desenvolvimento do país.

“Estão olhando única e exclusivamente para a parte econômica e esta não é a forma correta, não é melhor para o país, deveríamos estar hoje ampliando as refinarias e não privatizando”, avalia.

Trabalhador no refino paranaense há 18 anos, Paulo Henrique Debiasi diz acreditar ainda que a Lava Jato exerceu papel negativo na visão dos brasileiros sobre a estatal, o que contribuiu para o encolhimento da empresa.

“Com o intuito de combater a corrupção, tornaram a Petrobras corrupta como um todo, quando na realidade não é isso”.

Em nota, a Petrobras informou que os sindicatos estão descumprindo decisão judicial de manutenção de 90% do efetivo necessário para manter a operação, mas que tem mantido a produção com equipes de contingência e de empregados que não aderiram ao movimento, o que afastaria a possibilidade de desabastecimento.

A estatal ressaltou ainda a decisão do ministro do TST (Tribunal Superior do Trabalho) Ives Gandra que declarou inconstitucional a incorporação dos trabalhadores da Ansa aos quadros da Petrobras, uma vez que não são concursados. (Fonte: Folha.com)

 

0
0
0
s2sdefault