(foto: Danilson Carvalho/CB/D.A Press) -  Frustração com o resultado de indicadores setoriais e com índice de atividade do Banco Central leva mercado financeiro a reduzir projeções sobre crescimento do país neste ano. Efeito da epidemia do coronavírus na economia global pode provocar novas revisões

(Por Marina Barbosa) Ao contrário do que normalmente acontece em início de ano, 2020 começou com o pessimismo em alta na economia. O mercado financeiro reduziu de 2,3% para 2,23% a previsão de alta do Produto Interno Bruto (PIB) na edição desta segunda-feira (17/2) do Boletim Focus, no qual o Banco Central (BC) compila, semanalmente, as estimativas de cerca de uma centena de economistas de instituições financeiras. A estimativa é a menor das últimas 11 semanas e, segundo especialistas, reflete a frustração com os indicadores econômicos do fim do ano passado.

“Fechamos 2019 com a economia indicando uma recuperação bem mais gradual que o previsto e um crescimento muito abaixo do esperado. A dificuldade na recuperação da atividade foi evidenciada por todos os indicadores setoriais de dezembro. E isso gera uma perspectiva menor de crescimento para este ano”, explicou o economista Victor Beirute, da Guide Investimentos, citando, como exemplo, o resultado do Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do Banco Central, divulgado na semana passada.

Considerado uma prévia do PIB, cujo resultado será divulgado em março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IBC-Br avançou apenas 0,89% em 2019. O indicador ficou abaixo das projeções de alta de 1,1% a 1,2% do PIB e também dos resultados de 2018 e 2017. Por isso, levantou dúvidas sobre o ritmo de crescimento do país. “O resultado decepcionou. Então, dá nisso”, disse o economista da NGO Corretora Sidnei Nehme. Em meio ao cenário de frustrações, contudo, a Confederação Nacional do Comércio divulgou nesta segunda-feira (17/2) relatório que aponta para alta na intenção de consumo das famílias.

Queda
Economistas alertam que a revisão do Focus pode não ser a última de 2020. Os efeitos da epidemia de coronavírus, apesar de já terem impactado as projeções de bancos como o UBS e o JPMorgan, ainda não foram precificados pelos analistas ouvidos no Focus. Segundo Victor Beirute, isso deve acontecer nos próximos 30 dias, quando o mercado avaliar o desempenho das economias mundial e brasileira neste início de ano. “A partir dos dados de fevereiro, vamos ter uma noção melhor. E aí, vamos ver algumas revisões”, afirmou Beirute.

Se a previsão se confirmar, o início de ano de 2020 vai registrar uma queda rápida e significativa das projeções de crescimento da economia, ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando o otimismo em relação às reformas estruturais — e a percepção de que elas incentivariam a retomada econômica — se estendeu até meados do ano.

O cenário mais nebuloso também leva muitos analistas a avaliarem que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central poderá rever a decisão de interromper o ciclo de cortes da taxa básica de juros, anunciada após a última reunião do colegiado, que baixou a Selic para 4,25% ao ano. “Se os dados continuarem vindo dessa forma e a inflação continuar fraca, o mercado pode pressionar o BC a fazer novos estímulos. Mas acho que, pelo menos em março, o BC vai manter essa posição para analisar o que acontece com a economia mundial e com o andamento das reformas”, opinou Beirute.

No Focus desta semana, por sinal, o mercado reviu a projeção para a inflação deste ano de 3,25% para 3,22%, mais distante ainda do centro da meta oficial, de 4%. Já a Selic continua em 4,25%.

A taxa de câmbio também foi mantida em R$ 4,10 por dólar— acima dos R$ 4,05 anotados um mês atrás. Segundo economistas, porém, essa taxa deve ser novamente revisada, para cima, nas próximas edições do Focus. Nas últimas semanas, o dólar apresentou uma escalada que só foi contida depois que o Banco Central interveio no mercado.

“As perspectivas já mudaram muito neste início de ano. Tínhamos uma perspectiva otimista de investimentos, privatizações, fluxo de capital. Mas não está sendo assim. A economia segue lenta; o investidor acha que o Brasil está caro e, por isso, investe em outro lugar; e o governo ainda diz que o dólar tem que ficar alto, incentivando os especuladores a elevar o câmbio. Então, não dá para confiar muito nessa previsão de R$ 4,10”, argumentou Nehme. (Fonte: Correio Braziliense)

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