Comitê mantém estratégia em meio à discussão no governo sobre revisão do objetivo fiscal para 2024; mesmo com nova baixa, Brasil retorna ao topo do ranking mundial dos juros reais (Por Eduardo Rodrigues e Célia Froufe)

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central seguiu o plano de voo e reduziu pela terceira vez seguida a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, de 12,75% para 12,25% ao ano, em decisão unânime.

Conforme a sinalização dada no encontro anterior, em setembro, a queda da Selic nesse ritmo já era amplamente esperada. No comunicado, o comitê repetiu a defesa da importância de o governo perseguir as metas fiscais já estabelecida.

“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, diz o texto.

A meta fiscal do governo voltou com força ao debate após o presidente Lula afirmar, na última sexta-sexta, que “dificilmente” o governo conseguirá zerar o déficit das contas públicas em 2024, conforme prometido pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Como mostrou o Estadão, a mudança da meta é dada como praticamente certa depois da reunião do presidente Lula nesta terça-feira com lideranças políticas, quando falou que não vai cortar nenhuma vírgula do Orçamento de 2024.

O tamanho da flexibilização da meta vai depender de uma definição mais clara de quanto o governo conseguirá obter de aumento de receitas com as medidas arrecadatórias.

Ao justificar a decisão de hoje, o BC destaca que o Copom entende que “essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e o de 2025″, diz o texto. “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.”

Cenário externo
O Copom avaliou que o cenário internacional exige “atenção e cautela” por parte dos países emergentes. “O ambiente externo mostra-se adverso, em função da elevação das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos, da resiliência dos núcleos de inflação em níveis ainda elevados em diversos países e de novas tensões geopolíticas”, disse o colegiado no comunicado.

O BC também ressaltou que os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas. De acordo com o Copom, isso ocorre em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho.

Sobre a economia doméstica, o comunicado afirmou que o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres, já antecipado pelo Copom.

“A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, mas segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta de inflação, enquanto as medidas mais recentes de inflação subjacente ainda se situam acima da meta para a inflação”, pontuou.

Juro real
Mesmo com a nova baixa na Selic, o País retornou ao topo do ranking mundial dos juros reais (descontada a inflação à frente). Segundo levantamento do site MoneyYou com 40 economias, o Brasil passa a ter uma taxa de juros real de 6,90%, voltando a ultrapassar o México (6,89%).

Em terceiro, aparece a Colômbia (5,48%). A média das 40 economias pesquisadas é de 1,39%. Nas contas do BC, o juro neutro, que não estimula nem contrai a economia e, consequentemente, não acelera nem alivia a inflação brasileira, é de 4,5%.


Mais cedo, Campos Neto e os demais diretores da instituição aproveitaram o intervalo da reunião do Copom para posar para fotos em apoio às reivindicações dos funcionários do órgão, que entraram na terceira fase da operação-padrão nesta quarta-feira.

Os nove membros do Copom tiraram fotos na manifestação organizada pelos servidores em frente ao edifício-sede do BC, mas não fizeram discursos.

Os funcionários pedem a reestruturação da carreira do BC, com a criação de um bônus de produtividade semelhante ao implementado para a Receita Federal no atual governo. Os servidores também pedem a exigência de ensino superior para o cargo de Técnico do BC e a alteração de nomenclatura para o cargo de Analista.

De acordo com o Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal), segue a possibilidade de os funcionários entrarem em greve ainda em novembro. O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos ainda não apresentou nenhuma contraproposta do governo para as reivindicações da categoria.

A operação-padrão dos servidores já vem afetando a divulgação de indicadores econômicos do BC. A publicação dos dados mensais do setor externo e das estatísticas monetárias e de crédito, marcadas para a semana passada, foram adiadas para a próxima semana, bem como a nota de resultado primário do setor público consolidado. (Fonte: Estadão)

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