A estabilização da economia brasileira mudou o perfil dos indicadores do crédito destinado a consumidores e empresas nos últimos dez anos. Entre junho de 2004 e junho deste ano, o montante de crédito livre disponível de um salto. Cresceu 539,7%, de R$ 442,3 bilhões para R$ 2,8 trilhões, aponta uma análise feita pela Associação dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a partir de dados de mercado colhidos pelo Banco Central.

“Todos os indicadores do crédito tiveram desempenho positivo nesse período. Mas neste ano, com a mudança do cenário econômico, os resultados não são tão favoráveis”, observa o diretor executivo de Pesquisas e Estudos Econômicos da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira.

Em dez anos, a taxa média de juros anual recuou 12 pontos porcentuais; o spread bancário, que é a diferença entre o custo de captação e o de empréstimo, diminuiu 6,1 pontos e a inadimplência teve retração de 2,4 pontos. O prazo médio de financiamento, que era 7,6 meses, subiu para 36 meses, entre 2004 e 2014.

Segundo Ribeiro de Oliveira, de todos os indicadores do crédito avaliados em dez anos, apenas o prazo de pagamento teve uma evolução que o deixou num patamar comparável ao das economias desenvolvidas. Ele pondera, por exemplo, que o volume total de crédito como proporção do Produto Interno Bruto (PIB), que atingiu 55,3%, ainda está aquém das principais economias, que supera 100%.

Curto prazo. Enquanto a evolução dos indicadores do perfil do crédito melhorou em dez anos, o cenário de curto prazo, com o ritmo menor de crescimento da economia, não foi tão favorável. Neste ano, de janeiro a junho, o volume de crédito cresceu apenas 1%, a taxa de juros subiu cinco pontos porcentuais, o spread bancário teve alta de 5,5 pontos, o prazo de pagamento encolheu 2,5 meses e a inadimplência teve um aumento de 0,1 ponto porcentual.

“Neste ano, houve uma piora dos indicadores do crédito”, afirma o diretor da Anefac. Ele ressalta que, apesar da mudança de cenário, o índice de inadimplência ficou praticamente estável por causa da atitude dos bancos e dos consumidores. As instituições financeiras ficaram mais seletivas na aprovação de empréstimos. O resultado dessa maior seletividade apareceu nos balanços dos balanços dos bancos, que reduziram a provisão de perdas por causa do calote, observa Ribeiro de Oliveira. Os consumidores, por sua vez, lembra o executivo, também ficaram mais cautelosos para assumir novos financiamentos.

Para este caso, ele acredita que o fator decisivo que dará o rumo da inadimplência nos próximos meses será o comportamento do mercado de trabalho e o índice de desemprego. Em segmentos como indústria e construção civil, por exemplo, o mercado de trabalho exibe sinais de enfraquecimento.

“Poderemos ter uma elevação dos índices de inadimplência nos próximos meses, apesar da maior cautela dos bancos e dos consumidores”, prevê Ribeiro de Oliveira. Na sua opinião, a combinação de inflação alta, taxas de juros elevadas e o baixo crescimento econômico poderão resultar no aumento do desemprego, afetando a renda do consumidor e o faturamento das empresas, ampliando o risco de calote tanto das pessoas físicas como das pessoas jurídicas.
Fonte: Folha de S.Paulo
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